terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Detecção de mentiras: minha primeira pesquisa

Esta é uma pesquisa que desenvolvi no meu estágio curricular do curso de Psicologia, em 2004, junto com meu orientador Cristiano Coelho. Publicamos um artigo em 2009 fazendo o relato do estudo. Você pode ler o artigo na íntegra fazendo o download do Scielo:

Contando e detectando mentiras: efeito do feedback sobre o desempenho
Psicologia: Teoria e Pesquisa
Jan-Mar 2009, Vol. 25 n. 1, pp. 137-145
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n1/a16v25n1.pdf

Vou aproveitar o blog para falar um pouco mais informalmente sobre a pesquisa.

Muita gente me pergunta por que eu decidi pesquisar mentiras, como se eu tivesse algum tipo de afinidade com o assunto, mas a verdade é que meu interesse inicial não tinha nada a ver com isso. Tudo começou quando, em uma disciplina do curso de Psicologia, a gente ouviu sobre um estudo que usava uma técnica para ensinar pessoas com diabetes a discriminar o índice glicêmico do próprio corpo através da percepção de sensações corporais, sem uso de aparelhos. Aliás, aparelhos foram usados no treino, mas a habilidade discriminativa final não necessitava de aparelhos. Tendo passado pelo treino, essas pessoas conseguiam, simplesmente observando o próprio corpo, dizer se sua glicemia estava alta ou baixa.

A técnica de ensino é muito simples, e muito comum em psicologia, e chama-se treino discriminativo. A pessoa deve tentar perceber a presença de um estímulo, e de alguma forma apontar sua percepção (como dizendo "sinto que minha glicemia está baixa", ou apertando um botão). Se ela acertar é recompensada, se não acertar, não é. A técnica é simples, e o restulado esperado é que com o tempo a pessoa só aponte a presença do estímulo quando ele de fato estiver presente... ela aprende a discriminar o estímulo. A novidade desse estudo da glicemia, para mim, é que a técnica foi usada para treinar a percepção de algo que parece imperceptível, ou sutil demais para ser detectado sem o uso de algum tipo de instrumento ou aparelho.

Disso eu pensei "a detecção de que outras coisas aparentemente imperceptíveis pode ser treinada usando esse mesmo princípio?". A minha primeira idéia foi "detecção de mentiras", e foi pensando nisso que desenvolvi esse estudo.

A técnica que eu quis testar era: expor uma pessoa a uma seqüência de falas que podiam ser verdade ou mentira, pedir que ela fizesse julgamentos (tentar detectar as verdades e mentiras), e dar um feedback dizendo se a pessoa acertou ou não. Eu acreditava que com isso, com o tempo, a pessoa ia aprendendo a detectar mentiras. Não sei exatamente o que acontece durante essa aprendizagem... talvez o detector observa o comportamento do suposto mentiroso, percebe alguns sinais, julga se eles são ou não indicativos de mentira, e o feedback funciona como uma correção. Faz sentido, certo?

A premissa do estudo é simples assim, mas o demônio está sempre nos detalhes. A maior dificuldade foi bolar um procedimento capaz de envolver todos esses elementos: um número grande de falas que podiam ser verdade ou mentira, sendo que as mentiras pudessem ser objetivamente atestadas pelo pesquisador (ou seja, não podia ser uma mentira sobre a vida ou os gostos pessoais de quem a conta), estruturar algum tipo de feedback que também funcionasse como fator motivacional, etc. Fiquei razoavelmente satisfeito com o que a gente construiu.

Quanto aos resultados... bom, tanto o meu estudo quanto outros estudos da área dão evidências de que treinos com feedback podem melhorar a detecção de mentiras, sim. A grande complicação está no fato de que os sinais de mentira são muito sutis, idiossincráticos, e circunstanciais. Ou seja, não existe uma luzinha que acende sempre que a pessoa mente, nem um nariz que cresce, e por não haver um sinal único e claro, é muito complicado treinar alguém a detectar mentiras, ou sinais de mentira. É uma área de investigação científica muito complexa, e estou tentando dar minha contribuiçãozinha com pesquisas.

Meu mestrado também foi sobre detecção de mentiras, mas foi um estudo completamente diferente. Em outro momento vou falar sobre ele.

2 comentários:

  1. achei muito interessante seu blog , e esse texto sobre mentiras me chamou muito a atenção, bem q vc poderia colocar mais detalhes aqui sobre sua pesquisa, tive dificuldade em entender de fato o que vc concluiu...abraço

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  2. Os detalhes sobre a pesquisa mesmo estão no artigo! Tem o link para baixar.

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